Mateus 14.22-36
" Alta madrugada, Jesus dirigiu-se a eles, andando sobre o mar. Mas Jesus imediatamente lhes disse: “Coragem! Sou eu. Não tenham medo!”. " Mateus 14. 25,27
A noite cobria o céu como um manto acima dos olhos de alguma
criança adormecida, havia somente algumas pequenas estrelas remotas uma das
outras e a Lua. Ela, a dama da noite, crescia um pouco a cada noite e era a
única presente quando o deque rangeu com o peso desconhecido.
O deque da praia se estendia forte até uns 500 metros da praia,
onde era possível colocar os pés na água ou pular sem perigo; era de madeira
clara mas naquela noite parecia banhado pelo negro do céu.
Ele rangia devagar enquanto um par de pés finos e femininos
andava por ele, as mãos palidas de uma jovem garota passeava levemente entre as
barras de madeira grossas que evitava que crianças caíssem na água sem querer.
O vento chicoteou seus cabelos castanhos e sedosos com gentileza
e ela suspirou deixando todo o ar sair devagar da sua boca.. Era mediana, com um brilho nos olhos que observavam as ondas
brancas do mar com um apresso diferente das pessoas normais, um sorriso branco
e bonito que só a Lua testemunhava.
Sentou-se na ponta do deque deixando seus pés sentirem a água
fria e ficou ali quietinha ouvindo as ondas.
Brancas no meio da escuridão azul, as ondas vinham e voltavam
persistentes em molhar os seus pés e em fazê-la fechar os olhos.
Abriu a boca e com uma grande força cantou uma nota de uma
canção que ouvia quando estava na sua casa. A nota tornou-se um compasso, o compasso uma estrofe e a estrofe
um clamor mudo para as pessoas na cidade.
Enquanto cantava com a voz travada pela constante vontade de
chorar, uma série de imagens de um passado bom passava em sua mente...
Um lar lhe faltava, um aconchego era tudo que lhe faltava.
- Onde está minha casa? - cantorolou tomada pelo desejo das
lágrimas.
E então elas desceram rolando em seu rosto iluminado pela lua, eram
gotas perfeitas e desesperadas que se juntavam em seu queixo como um rio. Ela
nada fez para as impedir, apenas deixou-as livres e tentando ter forças para
olhar a Lua continuou repetindo o último verso da música.
- Lar....
Um cheiro de algodão saiu das nuvens e da velha madeira clara
sob seu corpo chegando no nariz dela sem que percebesse, a frangância a acalmou
como uma mãe acalma seu filho amedrontado.
A menina ficou ali olhando a água quando ao longe, iluminado
pela Lua pôde ver um enorme Leão caminhando até ela acima das águas.
Pulou na água molhando o vestido que cobria seu corpo e nadou até
ele, a água agora morna misturava-se com as lágrimas dela. Seu peito descia e
subia entre as braçadas desesperadas até o Leão e seu pensamento parecia ser
levado até a sua juba que brilhava como ouro cheios de brilhantes na luz da
Lua.
Quando finalmente conseguiu chegar perto dele, contemplou sua
beleza com mais lágrimas encharcadas e salgadas.
- Levante-se- ele pediu
Ela ficou ereta e sentiu seus pés sairem debaixo da água ficando
acima dela como o Leão estava. Olhou assustada para a água quando percebeu que
estava acima dela e que nela toda só havia fotos dela e de suas lembranças.
- Eu....- gaguejou desistindo das palavras e olhando para ele
- Filha, não fique assustada. Estou aqui- ele garantiu
Assentindo, a menina apenas se prostrou de joelhos e colocou a
cabeça aos pés do Leão.
- Me... Me leva para casa. - ela pediu roucamente nas lágrimas-
Eu.... Eu quero voltar.
Ele sorriu assentindo
- Levarei pequena, confie em mim.
- Não aguento mais, me leve.
- Confie em mim...
- Por favor- ela olhou para ele sem sair da posição em que estava-
Não quero ficar.
O Leão suspirou e rugiu fazendo enormes ondas quebrarem no mar. Uma enorme marca percorreu os ombros da garota indo até a palma de
sua mão, havia um pequeno Leão desenhado nela como se estivesse queimado.
- Quando tiver medo, olhe. Quando tiver correndo perigo, olhe.
Quando estiver feliz, olhe. Eu nunca estarei longe de você.
Com isso ele desapareceu tão rápido como tinha chegado e a garota
abriu os olhos no deque novamente.
Estava molhada com o corpo salgado, estivera na água. Levantou-se
olhando a Lua e a marca em sua mão.
Sumiu pelo mesmo caminho que viera fazendo o deque ranger e cantarolando a
mesma música que antes enquanto ouvia um rugido acompanhá-la.
"Eu nunca estarei longe." ela repetiu
inconscientemente fechando a mão com um sorriso.
E a Lua, foi a única a testemunhar a aparição do Amor para
ela.
Tiffany
Comentários
Postar um comentário