2 Coríntios 2.15
"Porque para Deus somos o bom perfume de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem." 2 Corintios 2.15
A mulher mais velha, com lenço na cabeça para segurar os fios rebeldes
do cabelo e com um vestido velhinho para limpar a casa enorme da família,
olhava para a roupa da moça de quinze anos curiosa. Algo parecia diferente nas
roupas dela, algum cheiro.
A senhora levou o blusão da menina até o nariz e sentiu o forte cheiro
de algodão fresco na roupa apesar do amaciante ser de flores. Curiosa, cheirou
a sua roupa e sentiu o cheiro de morte dentro dela.
Voltou sua atenção ao blusão sentindo o coração bater familiarmente.
- Bom dia Rosa- a jovem sorriu chegando na casa depois da aula- Minha
roupa secou de ontem pra hoje?
- Ah sim senhora.
- Não me chama de senhora- a menina disse largando a mochila no hall de
entrada decorado com madeira de carvalho, colocou o tênis no lugar e pegou a
pantufa que estava logo ao seu lado- Sabe que não gosto.
A jovenzinha andou até a cozinha passando por um corredor largo cheio de
fotos de uma família feliz que agora era quebrada, sua mãe trabalhava o dia
todo e seu pai viajava em conferências o tempo todo.
A cozinha era branca, com uma bancada azulada e com uma pia debaixo da
janela, a geladeira do lado da bancada que ficava do lado do fogão. Havia uma
ilha ali totalmente limpa em que a senhora de cabelos rebeldes dobrava a roupa.
Ela normalmente fazia ali aquele trabalho apesar do local não ser o
apropriado para isso.
Quando a menina chegou bem perto da moça, a mesma pôde sentir o cheiro
de algodão vindo dela.
- Venha me dar um abraço pequena- ela sorriu
A jovem caminhou até ela com um sorriso e a abraçou com força, a
empregada sentiu o algodão tomar todo o seu ar, uma sensação de casa tomava-lhe
o peito e parecia ouvir um rugido...
- Você anda usando perfume? - ela perguntou
- Não.
- Você anda cheirando a algodão. Estou curiosa da causa disso, suas
roupas todas cheiram a algodão.- confessou a empregada arrumando o lenço
- Ah! Isso. Sério que você sente o cheiro?
- Sim.
A menina soltou um sorriso enorme.
"Viu Pai?" ela pensou "Viu como estão sentindo?"
- Se quiser te mostro de onde vem o cheiro.- a menina propôs- Mas você
tem prometer que não vai me achar louca.
A empregada que era uma grande fã de loucuras assentiu seguindo a menina
até o seu quarto que estava bem arrumado e limpo, cheirando a algodão também.
A cama com colcha azul estava bem feita com um leãozinho de pelúcia no
centro dela, uma penteadeira reluzia o vidro reluzente com um recadinho ali
grudado "Sê valente!" em letras góticas da época medieval.
A cortina era branca e se abria para uma sacada muito bem limpa com
algumas flores penduradas como num jardim suspenso.
- Okay. Venha comigo.
A jovem prendeu o cabelo em um coque e afastou a cadeira da penteadeira
azul colocando o pé no vidro reluzente.
- Você vai entrar no espelho?!- assustou-se a empregada
- Vou, venha logo Rosinha! Você tem que ver sua casa!
E dito isso desapareceu no espelho, a dona Rosa com uma mistura de medo
e coragem leu novamente o bilhete e entrou no espelho como a menina.
Sua boca fez um prefeito "O" quando passou para o outro lado e
os seus olhos se encheram de lágrimas sentindo a familiaridade do cheiro e dor
lugar bater a porta do seu coração.
Era uma enorme colina esverdeada rodeada de árvores bonitas que se
mexiam no ritmo de uma música desconhecida para ela, alguns pássaros passavam
cantando e uma borboleta cheia de cores passou por ela encostando em seu cabelo
e depois voando para longe.
Rosa continuou andando até alcançar a sua menina que estava abraçada à
um enorme Leão. Ela deu um pulo para trás tomando um susto com o tamanho do
Leão, sua pelagem dourada reluzia e suas patas pareciam do tamanho de melões.
- Rosa, esse é o Papai- ela disse sorrindo- Ele também é Príncipe, mas é
conhecido como o Grande Leão.
- Pra... Prazer senhor.- ela disse com o medo crescendo
- Filha! Você voltou. - o Leão disse com um sorriso
Então a sua mente se abriu, a voz do Leão ecoou pelas suas entranhas e
pela sua mente, Rosa olhou aqueles olhos negros e lembrou-se de quando era
criança e ouvia a sua mãe contar sobre um Leão que salvara crianças de um mal
enorme. Lembrou-se enorme rugido que ouvia antes de dormir e da dor que sentiu
quando sua mãe morrera pelo câncer.
Olhou novamente para o Leão o reconhecendo e postrou-se de joelhos
chorando.
- Senhor! Senhor!- ela disse aos seus pés- Me perdoe por ter te
esquecido.
As lágrimas dela eram escuras como o azul do fundo do mar e o seu
coração batia tão rápido que parecia parar.
- Levante-se- pediu o Leão
- Não posso, não mereço a honra de ver-te novamente.
- Levante-se- ordenou o Leão com um rugido
A mulher levantou olhando para os seus olhos pretos que lhe mostravam a
bondade daquele Príncipe.
- Venha aqui filha- Ele disse com um sorriso
E abriu os braços para ela, Rosa ainda com medo e ressentimento caminhou
devagar até ele mas logo cedeu sentindo o cheiro de algodão tomar o seu corpo e
sabendo que poderia voltar para ali sempre.
- Quero tirar esse cheiro de morte de mim- ela suplicou
- Leva tempo querida, mas venha. Apenas descanse, você passou muito
tempo longe de casa.
Rosa então o abraçou com força sentindo-se apaixonada por aquele Leão
que reencontrara como seu Pai.
Tiffany
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